13.10.07

Los Mansos en Río de Janeiro

Ecos brasileños:

Viagens por zonas sombrias

Macksen Luiz

A origem de Los mansos, um dos representantes da Argentina no riocenacontemporânea, é a novela O idiota, de Fiodor Dostoiévski, mas que o diretor Alejandro Tantanian se apropria para estabelecer conjunções narrativas e outros tempos dramáticos. A história contada por um idiota, alguém que vê para além das evidências, se confunde com biografias de personagens do livro, com a dos atores e do diretor.

Essas interseções, que permeiam os conflitos criados pelo autor russo, são capazes de criar superestrutura cênica em que o processo narrativo é triturado por fragmentos de fatos e de sentimentos que se juntam como lembranças. Três atores, ora personagens de O idiota, ora representações de suas próprias memórias, e ainda projeções de semelhanças evocadas, ocupam na montagem de Alejandro Tantanian um espaço que se pretende abstratamente poético.

O que evolui em cena são sentimentos, levados a paroxismos musicais, a exacerbações doentias e a contrapontos radicais. O humor esbarra no trágico, o patético no melodrama, o intimista no épico, em movimentos contínuos de aproximar, pelo contraste, o processo cênico.

Além da música, ponto de convergência de estados de alma, as imagens, horizontalizadas pelo cenário de Oria Puppo, a iluminação de Jorge Pastorino e a coreografia dos atores por essa área alongada ambientam as tensões que nascem de condições que cada um dos personagens já traz em si.

A belíssima cena em que o quadro do Cristo se associa à biografia de Dostoiévski, ao que ele escreveu na sua novela, e às ressonâncias nos atores-personagens, é tão arrebatador quanto alguns monólogos que desenham outras metáforas visuais. O fim, em que a desilusão e o abandono se reduzem ao afago a um rato, adquire força poética na sua devastidão afetiva.

O diretor Alejandro Tantanian cria essa tessitura dramática como se em respiração arfante captasse o ar rarefeito de memórias irrecuperáveis. Nahuel Pérez Biscayart, Mirta Bogdasarian e Ciro Zorzoli adotam interpretação agressivamente provocativa, que tem em seu substrato forte carga emocional, fazendo de Los mansos dolorida exposição de zonas sombrias.

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